Era domingo à noite, não tinha muito o que
fazer, resolvi ir ver velhos amigos que já a algumas semanas que não os via.
Infelizmente nesse dia, meu parceiro fiel de caminhada não estava presente, meu
fone de ouvido, mas um pra lista dos quebrados, pelo menos esse durou
dignamente. Costumo sempre sair com ele no bolso, é minha fuga do barulho e
caos da cidade, onde posso viver meu pequeno mundo embelezado pelas letras de
uma banda qualquer.
Enfim, com o mesmo trajeto, chegando no
mesmo ponto de ônibus de sempre, avistei uma senhora que já deveria ter seus 60
e tantos anos, carregando uma pequena sacola, e que ao me avistar saiu, não sei
pra onde, talvez por medo, afinal os dias estão maus e até um cara normal como
eu pode parecer suspeito para uma senhora chegando no início da terceira idade.
De início, me pareceu estranho, mas ao
observar a situação, tem sua dose normal em sua atitude, era noite e estava
sozinha. Depois de um tempo esperando o ônibus, que vale dizer, demora muito no
domingo, a senhora voltou, sentou no banco, visivelmente um pouco cansada,
talvez abatida pelo dia, querendo apenas chegar em casa e descansar.
E então do nada ela começa a falar, de
modo tranquilo, como se contasse uma história, a sua história. No momento me
fez relembrar das velhas rodas ao redor da mesa ouvindo as histórias do meu
avô. E foi ela contando seu dia, sobre a ausência do filho, que hoje ela mal
sabe quem é e onde está. E lá foi ela contando seu dia, e eu com um entusiasmo
de quando você está assistindo um filme e espera o grande desfecho final, mas estava
ali quieto olhando para ela apenas ouvindo-a pacientemente.
No meio da historia o ônibus chegou, de
automático fui pega-lo, mas ao sentar no banco me arrependi, queria ter ouvido até
o final, queria saber a história dela, de alguém que nunca vi, e talvez nunca
vou ver, mas que naquele momento era a pessoa mais interessante do mundo (rs).
Fica a lição, ouça até o final, sendo bom ou não, são histórias de "Dias
de luta, dias de gloria".