16 de fevereiro de 2015

O Garoto da Lua - Capitulo I

Capitulo I

- Hey, acorde!
- Oi... Onde estou? - Perguntou o garoto assustado e confuso.
- Estamos na Lua, olha lá em baixo a Terra.
Respondeu o menino com cabelos loiros, bagunçados, caindo sobre os olhos, vestindo um pijama de listras azuis.
- Não é possível! Como vim parar aqui?
- Não sei amigo, só sei que estamos aqui.
- Qual o seu nome?
- Não sei, acho que não tenho. Você tem?
- Tenho, meu nome é Jack. Como você chegou aqui?
- Não sei, que eu me lembre eu sempre estive aqui.

            Milhares de perguntas assombram o pensamento de Jack e o único que poderia responde-las parece tão perdido quanto ele. Como foi parar lá? Porque estaria lá? São perguntas que no momento são impossíveis de se responder.
            Sentado sobre pedras, o confuso garoto apenas chora sem saber o que fazer, enquanto olha para Terra imensa e azul que parece estar sentindo sua falta também.

- Porque choras tanto? – pergunta o garoto de pijama
- Porque não choraria? – retruca Jack – Estou longe de casa, sem ninguém que eu conheça, sem saber como voltar, estou perdido!
- Mas você não está perdido, você está na lua. – responde inocentemente o pequeno garoto.

            Sem ter paciência para argumentar com o garoto, Jack apenas abaixa sua cabeça e pensa no que fazer, perdido em seus pensamentos se interioriza e por um momento viaja em seus próprios pensamentos. “Seria isso um sonho?” se pergunta, mas não se lembra de sonhar num sonho. Nos sonhos não existe tempo para sonhar, tudo é o que é, somos apenas protagonistas das cenas que nosso cérebro cria. Somos reféns dos roteiros dos curta-metragem que nossos sonhos nos propõe, onde representamos e vivemos nós mesmos em cenas de amor, ódio, aventura e terror, mas no fim sempre representamos quem no fundo queremos ser ou realmente somos.

            Num reflexo seu olhar se levanta e se depara com o garoto a encarar seus pensamentos, tomado pelo susto Jack cai da pedra em que estava sentado.

- kkkkkk... – Ri o pequeno garoto de modo inocente pela situação inesperada do seu novo conhecido.
- Droga, você me assustou!
- Desculpa, é que você parecia estar sonhando acordado.
- É, estava apenas pensando um pouco...
- Hum... Também gosto de ficar pensando as vezes. As vezes penso ser um cavaleiro que luta contra os monstros lunares. – Fala de modo sonhador o menino, simulando segurar uma espada lutando contra seus monstros invisíveis.
- Cuidado para não ficar louco (rs). Você sabe que monstros não existem, né?
- Quem disse que não existem?
- Ora... Eu nunca vi um...
- Eu também nunca tinha te visto, mas nem por isso você tinha deixado de existir.

            “Será que monstros existem?” Pensou consigo mesmo. “Não, não pode ser”. Mas na verdade monstros realmente existem, mas diferentes daqueles que nossa imaginação cria. Existem os monstros que são pessoas quem machucam as outras. Existem nossos monstros que lutam contra nossa vontade de ser alguém maior e melhor. Podemos passar a vida toda sem ver um, mas eles sempre nos atormentam em alguma parte da nossa vida.

- Nossa, você já está ‘viajando’ de novo... – Observa o menino.
- Sou meio sonhador mesmo, ando meio desligado.
- Consegue sonhar e andar? O sol está chegando temos que andar antes que ele chegue.
- Ok, é só mostrar o caminho.

Enquanto caminhava Jack e chutava algumas pedras ele pensava em tudo que tinha passado até ali e lembrava do caminho que fazia quando o sol nascia, quando pegava o caminho de sua casa até a escola. Era um caminho quase automático que ele poderia fazer até de olhos vendados, onde ele chutava as pequenas pedras pelo caminho que seus pés já treinados o levavam e libertavam sua mente para seus sonhos. É, Jack era um garoto sonhador, daqueles que sonhavam andando o que lhe rendia vários tombos, ralados e hematomas pelo corpo, além de ser zoado pelos seus colegas, mas isso não o incomodava, não quando estava preso aos seus pensamentos. Pensamentos esses que o libertavam de toda pressão que sua mãe lhe imputava, da falta de amor e compreensão que seus amigos proporcionavam e da falta de esperança que as pessoas não se cansavam de propagar.
Os sonhos são nossa rápida fuga de um mundo em colapso. Sua mãe não o entendia, ou não o tentava entender. Para ele era simples, apenas viva e deixe viver. Mas isso, apesar de ser um direito universal, nunca lhe foi dado, a incessante vontade de moldar os pensamentos alheios é um defeito passados por gerações em gerações. Defeito este que proporciona desde pequenos conflitos domésticos a guerras mundiais.
Jack era apenas um garoto com seus pouco mais de 13 anos, mas já sentia o peso que o mundo o aguardava. Suas tarefas escolares eram apenas a ponta do iceberg que o futuro lhe tinha reservado. Quando se é o primogênito as dificuldades se apresentam sempre mais cedo. Sempre se sentindo controlado e manipulado, o garoto buscava por meio da independência a saída para os seus males. Até lá teria que conviver com a censura de seus sonhos e desejos.
Ser sonhador numa terra de desesperançados é quase uma ofensa, todos te acham ou inocente ou prepotente. O colorido da vida parece ser coisa de cinema, porque a realidade é em preto e branco. Mas Jack não era assim, ele coloria seu mundo, coloria suas dificuldades e sonhos, porque no fundo sabia que tudo tem um jeito e ele não desistira até conseguir.
Quando então levantou seus olhos ao horizonte, percebeu que não havia uma trilha a percorrer, movido por suas dúvidas perguntou:

- Você sabe para onde estamos indo?
- Sim, eu sei... -  Respondeu tranquilamente o garoto.
- Como sabe se nem há um caminho?
- Nosso caminho é moldado por aquilo que queremos. Agora queremos evitar o sol, então é só seguir em frente que iremos chegar no lugar certo.


Seguir em frente, esse é sempre o grande segredo. Os garotos então chegaram ao seu lugar e viam bem longe o sol iluminar o lugar que posteriormente estavam. Agora a única preocupação de Jack voltava a ser em como ir pra casa.

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