Capitulo I
- Hey, acorde!
- Oi... Onde
estou? - Perguntou o garoto assustado e confuso.
- Estamos na
Lua, olha lá em baixo a Terra.
Respondeu o
menino com cabelos loiros, bagunçados, caindo sobre os olhos, vestindo um
pijama de listras azuis.
- Não é possível!
Como vim parar aqui?
- Não sei amigo,
só sei que estamos aqui.
- Qual o seu
nome?
- Não sei, acho
que não tenho. Você tem?
- Tenho, meu
nome é Jack. Como você chegou aqui?
- Não sei, que
eu me lembre eu sempre estive aqui.
Milhares de perguntas assombram o
pensamento de Jack e o único que poderia responde-las parece tão perdido quanto
ele. Como foi parar lá? Porque estaria lá? São perguntas que no momento são
impossíveis de se responder.
Sentado sobre pedras, o confuso
garoto apenas chora sem saber o que fazer, enquanto olha para Terra imensa e
azul que parece estar sentindo sua falta também.
- Porque choras
tanto? – pergunta o garoto de pijama
- Porque não
choraria? – retruca Jack – Estou longe de casa, sem ninguém que eu conheça, sem
saber como voltar, estou perdido!
- Mas você não
está perdido, você está na lua. – responde inocentemente o pequeno garoto.
Sem ter paciência para argumentar
com o garoto, Jack apenas abaixa sua cabeça e pensa no que fazer, perdido em
seus pensamentos se interioriza e por um momento viaja em seus próprios
pensamentos. “Seria isso um sonho?” se pergunta, mas não se lembra de sonhar
num sonho. Nos sonhos não existe tempo para sonhar, tudo é o que é, somos
apenas protagonistas das cenas que nosso cérebro cria. Somos reféns dos
roteiros dos curta-metragem que nossos sonhos nos propõe, onde representamos e
vivemos nós mesmos em cenas de amor, ódio, aventura e terror, mas no fim sempre
representamos quem no fundo queremos ser ou realmente somos.
Num reflexo seu olhar se levanta e
se depara com o garoto a encarar seus pensamentos, tomado pelo susto Jack cai
da pedra em que estava sentado.
- kkkkkk... – Ri
o pequeno garoto de modo inocente pela situação inesperada do seu novo
conhecido.
- Droga, você me
assustou!
- Desculpa, é
que você parecia estar sonhando acordado.
- É, estava
apenas pensando um pouco...
- Hum... Também
gosto de ficar pensando as vezes. As vezes penso ser um cavaleiro que luta
contra os monstros lunares. – Fala de modo sonhador o menino, simulando segurar
uma espada lutando contra seus monstros invisíveis.
- Cuidado para
não ficar louco (rs). Você sabe que monstros não existem, né?
- Quem disse que
não existem?
- Ora... Eu
nunca vi um...
- Eu também
nunca tinha te visto, mas nem por isso você tinha deixado de existir.
“Será que monstros existem?” Pensou
consigo mesmo. “Não, não pode ser”. Mas na verdade monstros realmente existem,
mas diferentes daqueles que nossa imaginação cria. Existem os monstros que são
pessoas quem machucam as outras. Existem nossos monstros que lutam contra nossa
vontade de ser alguém maior e melhor. Podemos passar a vida toda sem ver um,
mas eles sempre nos atormentam em alguma parte da nossa vida.
- Nossa, você já
está ‘viajando’ de novo... – Observa o menino.
- Sou meio sonhador
mesmo, ando meio desligado.
- Consegue
sonhar e andar? O sol está chegando temos que andar antes que ele chegue.
- Ok, é só
mostrar o caminho.
Enquanto
caminhava Jack e chutava algumas pedras ele pensava em tudo que tinha passado até
ali e lembrava do caminho que fazia quando o sol nascia, quando pegava o
caminho de sua casa até a escola. Era um caminho quase automático que ele
poderia fazer até de olhos vendados, onde ele chutava as pequenas pedras pelo
caminho que seus pés já treinados o levavam e libertavam sua mente para seus
sonhos. É, Jack era um garoto sonhador, daqueles que sonhavam andando o que lhe
rendia vários tombos, ralados e hematomas pelo corpo, além de ser zoado pelos
seus colegas, mas isso não o incomodava, não quando estava preso aos seus
pensamentos. Pensamentos esses que o libertavam de toda pressão que sua mãe lhe
imputava, da falta de amor e compreensão que seus amigos proporcionavam e da
falta de esperança que as pessoas não se cansavam de propagar.
Os sonhos são
nossa rápida fuga de um mundo em colapso. Sua mãe não o entendia, ou não o
tentava entender. Para ele era simples, apenas viva e deixe viver. Mas isso, apesar
de ser um direito universal, nunca lhe foi dado, a incessante vontade de moldar
os pensamentos alheios é um defeito passados por gerações em gerações. Defeito este
que proporciona desde pequenos conflitos domésticos a guerras mundiais.
Jack era apenas
um garoto com seus pouco mais de 13 anos, mas já sentia o peso que o mundo o
aguardava. Suas tarefas escolares eram apenas a ponta do iceberg que o futuro
lhe tinha reservado. Quando se é o primogênito as dificuldades se apresentam
sempre mais cedo. Sempre se sentindo controlado e manipulado, o garoto buscava
por meio da independência a saída para os seus males. Até lá teria que conviver
com a censura de seus sonhos e desejos.
Ser sonhador
numa terra de desesperançados é quase uma ofensa, todos te acham ou inocente ou
prepotente. O colorido da vida parece ser coisa de cinema, porque a realidade é
em preto e branco. Mas Jack não era assim, ele coloria seu mundo, coloria suas
dificuldades e sonhos, porque no fundo sabia que tudo tem um jeito e ele não
desistira até conseguir.
Quando então
levantou seus olhos ao horizonte, percebeu que não havia uma trilha a percorrer,
movido por suas dúvidas perguntou:
- Você sabe para
onde estamos indo?
- Sim, eu sei...
- Respondeu tranquilamente o garoto.
- Como sabe se
nem há um caminho?
- Nosso caminho é
moldado por aquilo que queremos. Agora queremos evitar o sol, então é só seguir
em frente que iremos chegar no lugar certo.
Seguir em
frente, esse é sempre o grande segredo. Os garotos então chegaram ao seu lugar
e viam bem longe o sol iluminar o lugar que posteriormente estavam. Agora a única
preocupação de Jack voltava a ser em como ir pra casa.